SER JOGADOR DE FUTEBOL

 

    Toda criança pensou um dia ser jogador de futebol e comigo claro que não seria diferente. Futebol para mim é aquele amor platônico que jamais acabará. Desde sempre, desde a primeira vez que coloquei uma bola no pé, bem provável ter vinda do meu pai, pai este que teve um papel importante para contribuir nesse sonho não ser realizado. Primeiro, minha história de moleque foi de bons tempos na quadra de cimento na frente de casa, futebol o dia inteiro até a mãe reclamar, até acabar o gás, bons tempos jogando descalço, sem lesões e um prazer enorme. Daí, tive a oportunidade de participar de uma escolhinha de futebol do Vasco, time do coração, com um grande ídolo como treinador, Vivinho. Um cara sensacional, amigo, sincero, um cara do bem que além do futebol, acima de tudo o respeito e o caráter sempre foram importantes. Tive excelentes momentos nesse campo society, categoria e idade não consigo ser preciso, mas uma criança por volta dos 12 a 14 anos, arrebentava nos treinos, eram muitos gols, sempre destaque, sempre jogando sério e só com o objetivo do gol, gols e mais gols e assim, Vivinho meu treinador passou a olhar com outros olhos. Me colocou em categorias mais velhas, nos treinos sempre me ajudava a melhorar, me cobrava mais que os outros pois sabia que eu era diferente no meio do meu grupo e realmente conseguia fazer bons jogos e os gols sempre saindo, além da postura e educação importantes para o treinador Vivinho. Até que recebo a notícia junto ao próprio treinador e meu pai, que fui selecionado para uma sessão de testes dentro do Vasco, o Vasco de verdade, nenhuma filial, o Vasco da Gama do meu coração. Era muito jovem, fiquei muito feliz mas não sabia a dimensão daquilo ali. Cheguei ao clube junto aos dois, com uma carta entregue em mãos a uns dos dirigentes do Vasco, que logo quando me viu, soltou assim: -Nossa garoto grande hen! rs. Um período de teste, que era mais para a adaptação, pois um pedido daqueles já tinha aberto as portas para mim e tinha causado uma boa impressão. Porém, nem tudo são flores, minhas primeiras semanas de treinos fui bem empolgado, porém encontrei uma cobrança muito maior e a adaptação não foi rápida. A vontade de jogar futebol se viu em contraste com treinos táticos e físicos e aquilo foi me afetando muito. Chegando aos coletivos mais surpresas, tínhamos dois times completos de 11 jogadores e eu? Reserva do reserva, aquele grupinho que jogava os últimos 5 minutos, dos dois tempos de 45, time grande né. Enfim, aceitável para qualquer garoto que acabou de chegar. Mas passam semanas e semanas, alguns meses e aquela rotina pouco se alterava, o garoto fominha do futebol no cimento perto de casa, do society do Vivinho fica cada vez mais inquieto e sem motivação naquele lugar. Meu pai nas poucas conversas que tivemos, me conta que era difícil aquela rotina, outros garotos tinham regalias devido o treinador receber subornos dos pais, além da dificuldade de horário para conciliar escola e os treinos pesados do Vasco. Esses foram alguns motivos para que em outra conversa eu pedisse para sair, abandonar aquele sonho que até hoje me arrependo de não insistir, de não ter me esforçado mais um pouco e que meu pai não criou nenhuma resistência para essa saída, apenas aceitou e achou que foi o melhor no momento, mas não posso crucificá-lo, sempre buscou o melhor para mim. Porém, era uma criança e como disse, não sabia a dimensão daquilo, naquele momento não via como um sonho, via como um prazer de jogar futebol em clube e um prazer que não vinha tendo, devido as várias dificuldades citadas. Com o passar dos anos já jogando no bairro novamente e com mais idade, fico triste por não ter tido sucesso profissional, acredito que tinha potencial para avançar nas categorias e quem sabe ser profissional do Vasco. Mas enfim, sai e obtive sucesso amador, hoje tenho 14 troféus de artilheiro, uma marca individual que tenho muito orgulho. Acredito que Deus traça nossos caminhos e se não era pra ser, tudo bem, o futebol continuará como um amor platônico, o Vasco o time do coração, o Vivinho minha eterna gratidão e meu pai, é meu pai, não preciso dizer que é meu eterno amigo e parceiro e agradeço por tudo que fez e faz por mim até hoje.